Imagine abrir o jornal e descobrir que a nova política econômica dos Estados Unidos — com impactos diretos no seu bolso, na inflação mundial e no futuro das exportações brasileiras — foi calculada por uma inteligência artificial. Não, isso não é roteiro de filme distópico. É o que pode estar acontecendo neste exato momento.
Na mais recente edição do Friday’s Growth, mergulhamos em uma série de acontecimentos surpreendentes: o chamado “tarifaço” proposto por Donald Trump, a suspeita de que ele foi elaborado com auxílio do ChatGPT ou Grok, e os desdobramentos geopolíticos de uma medida que pode reembaralhar todas as cartas da economia mundial. Se você ainda acha que a IA é só uma ferramenta de produtividade, prepare-se para entender por que ela já está sentada à mesa com os líderes globais — e talvez até jogando as cartas mais importantes.
IA: De Assistente de Texto a Arquitetar a Economia Mundial
O ponto de partida da polêmica: uma fórmula divulgada oficialmente pela Casa Branca, cheia de variáveis e ar de sofisticação matemática, usada para calcular as novas tarifas impostas a países com os quais os EUA têm déficit comercial. A surpresa? Ela é exatamente igual a fórmulas geradas por usuários no ChatGPT e Grok para “simular um tarifaço justo”.
Seja por coincidência ou conveniência, o fato é que uma política pública de impacto global parece ter nascido da mente de uma IA generativa. A implicação disso vai muito além da fórmula: revela como a inteligência artificial está influenciando não só a automação de tarefas técnicas, mas a própria lógica de decisões geopolíticas.
As Consequências de um Cálculo “Frio” Demais
Utilizar IA para simulações e cenários é, sim, eficiente. O problema? A falta de contexto humano. A fórmula, apesar de racional, ignora acordos diplomáticos, precedentes históricos e sensibilidades políticas. E é aí que o jogo começa a ficar perigoso.
Consultando uma IA como o Deepseek — especializada em modelagem de cenários — os desdobramentos se desenham de forma clara e preocupante:
- Inflação Global e Desaceleração Econômica (1 a 3 anos)
O aumento de tarifas leva ao encarecimento de produtos e à retração do consumo. Bancos centrais como o Fed e o BCE elevariam juros, reduzindo investimentos. - Reestruturação das Cadeias de Suprimentos (2 a 5 anos)
Empresas buscariam alternativas para evitar tarifas, como nearshoring para países aliados. O Brasil pode até se beneficiar pontualmente, mas o risco é a fragmentação das cadeias globais. - Retaliações Estratégicas e Formação de Novos Blocos Econômicos
China e Europa podem fortalecer acordos bilaterais, enfraquecendo o domínio dos EUA. O Mercosul pode ganhar protagonismo, mas em meio a um tabuleiro cada vez mais volátil. - Pressão Doméstica nos EUA e Possíveis Concessões
Setores prejudicados internamente, como o agronegócio americano, pressionariam por flexibilizações. Um alívio para alguns, mas sintoma de instabilidade para todos.
O Brasil no Meio do Furacão
Com reações automáticas sendo aprovadas em regime de urgência pelo Congresso, o Brasil corre o risco de embarcar em uma espiral de retaliações. Mas sem dominar as tecnologias que movem essa nova lógica de poder, como IA, blockchain e automação, ficaremos apenas reagindo — e não agindo.
Mais alarmante ainda é o dado de que 83% dos jovens entre 18 e 34 anos já usam IA generativa no Brasil, enquanto os mais velhos, menos escolarizados e de classes sociais mais baixas ainda estão fora desse movimento. Um abismo de produtividade começa a se formar dentro da própria sociedade.
O Fim da Programação? Ou o Começo de Algo Maior?
Outro tópico quente abordado na live: as declarações ousadas de CEOs como Satya Nadella (Microsoft), Sundar Pichai (Google), Sam Altman (OpenAI) e Elon Musk (XAI), que apontam para o fim da programação como conhecemos.
Dentre as afirmações:
- A IA escreverá 90% do código nos próximos 12 meses.
- O Copilot será o principal desenvolvedor de software em muitas equipes até 2027.
- Front-end e tarefas repetitivas serão as primeiras a desaparecer.
Essa revolução rebaixa a barreira de entrada para criação de produtos digitais. Qualquer empreendedor poderá, em breve, desenvolver software com custos até 80% menores. A questão central então passa a ser: quem sabe fazer as perguntas certas à IA?
Quem Fica Para Trás?
Se por um lado temos CEOs otimistas, por outro, dados preocupantes surgem. Uma pesquisa feita pela HSR mostra uma clara desigualdade na adoção de IA generativa:
Segmento | Percentual de Adoção |
---|---|
Jovens 18-34 anos | 83% |
Classe A | 95% |
Classes C2, D e E | 61% |
Ensino Superior Completo | 80% |
Ensino Médio Completo | 31% |
Ou seja, os que mais se beneficiariam da IA — por estarem em empregos operacionais e mais fáceis de serem automatizados — são justamente os que menos usam.
Políticas Públicas e Educação Urgente
Se queremos um Brasil competitivo em 2030, precisamos formar agora trabalhadores capazes de operar lado a lado com agentes de IA. Isso passa por:
- Educação básica com foco em pensamento computacional.
- Programas de capacitação em IA generativa para trabalhadores.
- Acesso gratuito a ferramentas e treinamentos.
- Incentivo à adoção de IA em PMEs.
A produtividade do futuro será medida pela sinergia entre humanos e máquinas. Se deixarmos metade da população para trás, perderemos a corrida.
E os Empregos? Quem Está na Berlinda?
Segundo as percepções globais, profissões como médicos, juízes e gerentes são vistas com mais temor em relação à substituição por IA do que os próprios programadores. A razão? A dimensão humana das decisões ainda pesa.
Mas o alerta está dado: profissões com tarefas repetitivas e baseadas em dados estão na mira.
Entre elas:
- Diagnóstico de doenças
- Desenvolvimento de software
- Ensino básico
- Análise financeira
- Gerenciamento de projetos
- Coaching e mentoria
Se você atua nessas áreas, é hora de se atualizar ou colaborar com a IA.
IA como Colega de Trabalho — ou Concorrente?
A IA está assumindo um papel de colega de trabalho silencioso. Um colaborador que não dorme, não erra (quase), e escala sua produtividade com poucos cliques.
Logo, empresas que não treinarem seus funcionários para interagir com IA terão menos produtividade e inovação. E países que não fizerem o mesmo verão sua competitividade cair.
O Futuro Não Espera
O tarifaço de Trump, possivelmente gestado por uma IA, é mais do que uma provocação econômica. É um símbolo de como a inteligência artificial está se tornando parte do tecido que compõe as decisões políticas, econômicas e sociais do mundo.
E se hoje a IA calcula tarifas, amanhã pode muito bem tomar decisões no lugar de presidentes, CEOs e gestores.
Mas o alerta final é claro: a IA não é o inimigo — a ignorância sobre ela é. Se você é gestor, empreendedor ou profissional liberal, comece agora. Aprender, testar, entender e aplicar.
Porque, no futuro, quem não souber trabalhar com IA… será substituído por quem souber.