A IA é uma bolha?
Não, não é.
É algo mais complexo, que precisamos entender melhor o contexto para encontrar respostas para algumas dúvidas do mercado.
Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) tem sido um dos tópicos mais quentes no mundo da tecnologia. Na verdade, a impressão é que só se fala nesse assunto. Empresas como Nvidia, Google, e Microsoft têm feito investimentos em diversas empresas, prometendo inovações revolucionárias (Muitas vezes não são tão tangíveis para os usuários). Recentemente, Nvidia relatou receitas impressionantes e Elon Musk afirmou que a IA de nível humano está a apenas um ano de distância. Mas será que estamos realmente no auge de uma revolução ou apenas diante de uma bolha prestes a estourar?
Tecnologia desacelerando ou expectativa ajustada?
O ChatGPT foi um salto evolutivo impressionante em relação a qualquer sistema de IA acessível a todos. Porém, tudo o que veio depois parece muito mais incremental do que disruptivo.
Os avanços rápidos das IAs, como o ChatGPT da OpenAI e o Gemini do Google, parecem estar desacelerando. Inicialmente, essas IAs mostraram progressos significativos, mas nos últimos 14 meses, os avanços têm sido meramente incrementais. A sensação que temos é que as capacidades dessas tecnologias atingiram uma espécie de platô.
Um dos maiores desafios é a escassez de novos dados para treinar esses modelos. As empresas já utilizaram praticamente toda a internet disponível, recorrendo agora a “dados sintéticos” gerados por outras IAs. No entanto, essa abordagem tem suas limitações. Por exemplo, a criação de tecnologias avançadas como a direção autônoma não conseguiu grandes avanços com essa metodologia.
A Comoditização da IA.
Existe uma regra inexorável de mercado que se aplica ao momento: quando uma tecnologia se torna amplamente conhecida e dominada, a vantagem competitiva diminui. Estamos vendo isso acontecer com a IA. Empresas como OpenAI e Anthropic podem enfrentar dificuldades, enquanto gigantes como Microsoft e Google continuam a dominar, graças aos seus vastos recursos financeiros. Lembrando que a Microsoft tem participação na OpenAI e conta com uma base de usuários na casa dos bilhões.
Os custos operacionais são outro grande desafio. A Sequoia Capital estima que a indústria gastou $50 bilhões em chips da Nvidia em 2023, mas gerou apenas $3 bilhões em receita. Operar IAs é extremamente caro, com custos de operação frequentemente superando os custos de treinamento.
Estamos todos aprendendo a usar.
Pesquisas indicam que a adoção da IA no ambiente de trabalho ainda é limitada. Uma pesquisa da Microsoft e LinkedIn revelou que três em cada quatro trabalhadores de colarinho branco utilizam IA, mas a maioria desses usuários está apenas experimentando a tecnologia, e não depende dela para suas tarefas diárias.
Ferramentas como o AI Copilot da Microsoft, que custa $30 por mês, estão longe de justificar os altos investimentos feitos pelas empresas. Além disso, sistemas de IA ainda requerem supervisão humana devido à sua tendência de gerar informações falsas, o que limita sua eficácia.
Esse dado é curioso quando observamos a quantidade de novos produtos lançados TODOS OS DIAS com promessa de uso de IA. Basta acessar o site da Futurepedia para ter uma vertigem ou ataque de ansiedade com a quantidade de opções de plataformas de IA.
Apesar dos desafios, a IA tem potencial para transformar indústrias a longo prazo. No entanto, o nível atual de investimento parece baseado em expectativas irreais de rápidas melhorias e adoção. Empresas e investidores precisam reavaliar suas estratégias, considerando um cenário onde a IA evolua de forma mais gradual e sustentável.
Quem está liderando a corrida da IA:
1. Nvidia: A Nvidia tem sido um dos principais fornecedores de chips para IA, impulsionando as capacidades de empresas como OpenAI e Google. A empresa já ultrapassou a Apple em valor de mercado, na casa dos 3 trilhões de dólares de valor de mercado. No entanto, os altos custos de seus chips e a necessidade de enormes quantidades de dados para treinamento estão se tornando um desafio crescente.
2. OpenAI: A OpenAI, com seu ChatGPT, demonstrou avanços incríveis no começeo, mas também enfrenta a realidade de que as melhorias incrementais são cada vez mais difíceis de alcançar. O recente lançamento do ChatGPT 4o deu um fôlego novo para a empresa. Mas a dependência de dados sintéticos é um exemplo claro dos desafios futuros.
3. Google: Com seu modelo Gemini, o Google ainda parece não ter encontrado o produto que conecta bilhões de usuários, É uma empresa que continua a liderar em inovação, mas também enfrenta os mesmos desafios de dados e custos operacionais que outras empresas de IA.
4. Microsoft: A integração de IA em produtos como o AI Copilot mostra o potencial da tecnologia para uso diário. O investimento na OpenAI tem se mostrado mais um grande achado da empresa que educou toda uma geração a usar o computador na forma de editor de texto, planilhas e apresentações com templates de gosto duvidoso. Parece ser o player com mais capacidade de conectar uma grande base de usuários com produtos que já mostram aplicação prática da IA no dia a dia.
A IA está se consolidando como uma nova forma de interação com a tecnologia, transformando a maneira como trabalhamos, aprendemos e nos comunicamos. Dentro desse ecossistema, vemos uma clara divisão emergir: de um lado, as empresas que se dedicam ao desenvolvimento de IA pura, focadas na criação de algoritmos e modelos inovadores; do outro, as empresas que utilizam esses avanços para desenvolver produtos e serviços que melhoram a vida cotidiana das pessoas. Essa dinâmica cria um ciclo de inovação contínua, onde os avanços em IA impulsionam a criação de soluções práticas, gerando um impacto profundo e positivo em diversas indústrias.
Não, a IA não é uma bolha. O que estamos vendo é uma reorganização essencial do ecossistema de tecnologia. Esta transformação abre um leque de oportunidades para empresas e profissionais capazes de desenvolver soluções inovadoras baseadas em modelos de IA. Aqueles que conseguirem integrar a IA de forma eficaz em seus produtos e serviços estarão na vanguarda dessa nova era, colhendo os frutos de um mercado em constante evolução. A chave para o sucesso reside na habilidade de adaptar e aplicar a IA para resolver problemas reais, criando valor tangível e sustentável para consumidores e negócios.