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A Revolução Começa com um Hacker: Quando a Rebeldia se Torna um Produto de Sucesso

Imagine ser expulso da universidade por criar uma ferramenta que ajuda candidatos a “trapacear” em entrevistas técnicas… e, dias depois, levantar US$ 5,3 milhões para escalar esse produto globalmente. Parece enredo de série da Netflix? Não. É o novo normal do Vale do Silício.

Essa é a história real de Chungin “Roy” Lee, um estudante de 21 anos da Columbia University que transformou frustração em código, código em produto, e produto em negócio — mesmo sob a acusação de desonestidade acadêmica.

E por mais polêmica que seja, essa história levanta uma discussão inevitável: o que é trapaça no mundo onde todos têm acesso à inteligência artificial? E mais: será que o mercado está preparado para lidar com candidatos aumentados por IA?


Interview Coder: A Ferramenta “Invisível” que Abalou o LeetCode

O Interview Coder é um software que atua como um copiloto invisível para entrevistas técnicas. Ele analisa a pergunta em tempo real, sugere soluções em código, depura erros e explica tudo como se fosse o próprio candidato. Tudo isso, claro, sem aparecer na tela do Zoom.

Custa US$ 60/mês, mas promete algo mais valioso que qualquer certificado: conseguir o emprego dos sonhos, mesmo que você não saiba resolver um algoritmo em tempo real.

Lee alega que, após 600 horas estudando no LeetCode sem sucesso, decidiu que o problema não era ele — era o processo. Em apenas uma semana, criou o Interview Coder e conseguiu ofertas da Amazon, Meta e TikTok. Todas rescindidas após ele revelar como conseguiu.


Da Expulsão ao Investimento: O Efeito San Francisco

O que poderia ter sido o fim de uma carreira se transformou em trampolim. Roy foi suspenso por Columbia, não pela ferramenta, mas por divulgar documentos internos da universidade. Ele não parecia surpreso. Já tinha planos de ir para San Francisco, onde foi recebido de braços abertos — e com cheques generosos de investidores.

Com receita recorrente anual batendo US$ 2 milhões e crescendo 20% por semana, a startup virou símbolo de uma geração cansada de processos seletivos injustos. Para muitos, Roy é um herói rebelde. Para outros, um antiético programador que mina a meritocracia.


A Ética da Trapaça: Quem Está Realmente Quebrando as Regras?

É aqui que a discussão fica interessante.

Empresas como Google, Amazon e Meta exigem excelência técnica em entrevistas cronometradas, baseadas em problemas matemáticos distantes da realidade do dia a dia de um engenheiro de software. Para ser contratado, você precisa decorar padrões, não pensar criativamente. Para muitos candidatos, o jogo já é desonesto.

Nesse cenário, Roy apenas nivelou o campo de jogo usando IA. Se empresas se consideram AI-first, por que entrevistas não deveriam aceitar IA como ferramenta?

Essa é a lógica por trás da sua defesa. E, convenhamos, ela tem apelo.


As Empresas Reagem: Volta das Entrevistas Presenciais e Termos de Uso Anti-IA

Após o boom do Interview Coder, empresas começaram a reagir. O Google estuda retomar entrevistas presenciais. A Amazon exige que candidatos assinem um termo afirmando que não usarão assistentes não autorizados.

Mas essas medidas não atacam o ponto central: o processo seletivo está quebrado. Proibir IA é como tentar conter a maré com baldes. Se a tecnologia está disponível e acessível, ela será usada — quer você goste ou não.


Por Que Essa História Viraliza?

Roy não é só um programador. É um símbolo.

Ele representa uma geração que cresceu online, vive sob pressão extrema para performar, e encontra na tecnologia a única forma de competir com igualdade.

Mais do que uma ferramenta, o Interview Coder é uma crítica embutida ao sistema. Por isso viraliza. Porque todos já sentiram a frustração de um processo injusto. Porque todos, em algum momento, pensaram: “se eu tivesse ajuda agora, conseguiria.”


Estamos Preparados para um Mercado “IA-Assistido”?

A resposta curta: não. Ainda não.

O RH tradicional não está pronto para avaliar candidatos aumentados por IA. Muitos processos ainda dependem de métricas ultrapassadas, entrevistas que testam memória e não raciocínio, e uma visão romântica do “autêntico talento técnico”.

Mas o mercado vai precisar mudar. E rápido.

Porque a IA não vai esperar. Ela já está na mesa. A pergunta agora é: você vai banir, ignorar ou integrar?


Oportunidade ou Armadilha? Como Investidores Estão Enxergando Isso

Os US$ 5,3 milhões que Roy levantou mostram algo claro: há mercado para ferramentas de entrevista com IA — mesmo que controversas.

Investidores não estão preocupados com moralidade. Estão preocupados com aderência de mercado, tração e receita. E, nesse quesito, Roy entregou tudo.

Isso mostra uma mudança profunda: a ética está sendo reprogramada pelo capital de risco. O que antes era condenável, hoje vira produto — desde que escale.


Roy Lee é o Novo Zuckerberg? Ou Só Mais um Hacker?

A comparação é inevitável. Assim como Zuckerberg enfrentou Harvard ao criar o Facebook, Roy desafiou Columbia criando um software que confronta o modelo educacional e corporativo.

Ambos começaram com algo “errado”. Ambos viralizaram. Ambos captaram milhões. A diferença? Roy não criou uma rede social — criou um espelho da falência dos sistemas que nos avaliam.


É Sobre o Futuro das Relações com Performance e Trabalho

A história de Roy Lee é um retrato do nosso tempo: inovação que desafia normas, IA que redefine mérito, e um mercado que se dobra à eficiência — mesmo que isso custe seus princípios. O Interview Coder é mais que um software. É uma provocação. E, se não formos capazes de responder com novos modelos éticos e operacionais, seremos apenas espectadores da próxima onda de disrupção: a trapaça automatizada como serviço.