Durante mais de uma década, a tela do celular foi o centro da nossa vida digital. Toda estratégia de marketing, vendas e relacionamento com o cliente foi construída sobre esse pilar: conquistar espaço no bolso e atenção nos cliques. Mas essa lógica está começando a ser desafiada, e os últimos movimentos das big techs deixam isso claro.
A Apple e os AirPods que não são mais fones de ouvido
Na semana passada, a Apple anunciou uma nova geração de AirPods com funcionalidades que vão muito além de ouvir música. Agora, eles traduzem conversas em tempo real, monitoram frequência cardíaca, oferecem treinos guiados por voz e, claro, se conectam diretamente ao iPhone e ao ecossistema Apple.
Na prática, isso significa que os AirPods começam a ocupar um espaço que antes era exclusivo do celular. Interações que dependiam de tela passam a ser resolvidas no ouvido, por voz. É um reposicionamento estratégico: o celular continua existindo, mas o fone deixa de ser acessório e vira protagonista.
A OpenAI e a aposta radical em um device sem tela
Enquanto a Apple expande seu ecossistema, a OpenAI acena para uma ruptura. A empresa contratou Jony Ive, ex-chefe de design da Apple e responsável pela criação do iPhone, para liderar o desenvolvimento de um novo dispositivo. A grande especulação é que ele será um device sem tela, desenhado especificamente para rodar o ChatGPT de forma nativa.
A visão é simples e ousada: tudo por voz, sem interface visual. Algo que lembra filmes como Her e dispositivos experimentais como o Humane AI Pin e o Rabbit R1. A diferença é que, desta vez, há uma empresa com bilhões em capital e uma base de usuários massiva apostando nessa ideia.
A Meta e a obsessão pela tela no rosto
No outro canto do ringue está a Meta, que insiste em uma aposta contrária: mais tela. Seus óculos inteligentes, criados em parceria com a Ray-Ban, tentam consolidar a promessa da realidade mista. Uma tela sempre à frente dos olhos, adicionando camadas de informação ao mundo físico.
Apesar dos tropeços nos lançamentos (o último evento foi marcado por falhas técnicas que alguns acreditam ter sido até proposital para gerar buzz), o objetivo da Meta é claro: criar um dispositivo que roube tempo de tela do celular e transfira essa atenção para o rosto do usuário.
O que tudo isso significa para as empresas
Esses três movimentos (os AirPods da Apple, o futuro device sem tela da OpenAI e os óculos da Meta) têm algo em comum: todos questionam o celular como interface central.
Se o consumidor não precisa mais abrir um app para interagir, o que acontece com o funil de vendas?
Se o atendimento pode ser feito por voz, como ficam os scripts e fluxos pensados para chatbots de tela?
Se a compra pode ser concluída com um comando de voz, como será a experiência de checkout?
O marketing que depende da tela está com os dias contados. E empresas que continuarem pensando apenas em cliques e responsividade vão perder relevância em um mundo em que a interação é invisível, conversacional e onipresente.
O desafio do mundo pós-celular
A provocação é direta: se amanhã seu consumidor pedir um produto apenas com a voz, sua empresa estaria preparada para responder?
O mundo pós-celular não significa a morte imediata dos smartphones. Significa a redistribuição da atenção. Voz e áudio vão assumir cada vez mais espaço, e empresas precisam repensar agora suas estratégias de interação.
Não se trata de lançar um app para AirPods ou criar campanhas para óculos. Trata-se de redesenhar a experiência do consumidor para um futuro em que os cliques não são mais o centro, mas sim a conversa.
Quem entender isso cedo vai transformar essa transição em vantagem competitiva. Quem não entender vai descobrir da pior forma que a era do clique acabou.

